quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Verdadeiro você!


Um homem só se conhece em duas situações: quando está sob a ameaça de uma arma ou quando quer conquistar uma mulher.

Você pode argumentar que ambas são situações de descontrole emocional.

Errado: o descontrole é o homem. O controle é um disfarce.

Você deve se julgar pelo seu comportamento quando enfrentou a possibilidade de morte ou quando estava a fim da (o nome é hipotético) Gesileide. Aquela vez que você se escondeu atrás de um poste para ver se ela chegava em casa com alguém.

Meia-noite e você atrás do poste, sob o olhar curioso de cachorros e porteiros,
fingindo que lia a lista do bicho no escuro.

Aquele imbecil - e não esse cidadão adulto, respeitável, razoável, comedido, talvez até com títulos - é você.

Tudo o mais é a capa do imbecil essencial.

Tudo o mais é fingimento.

Você nunca foi tão você atrás daquele poste.

Pense em tudo o que você já fez para conquistar uma mulher.

Os falsos encontros casuais, cuidadosamente arquitetado.

Os falsos telefonemas errados, só para ouvir a voz dela.

As bobagens que você disse, tentando impressioná-la.

Pior, as bobagens que você ensaiou em casa e disse como se tivesse pensado na hora.

O que você escreveu, sem revisão ou autocrítica.

Aquele ridículo era você.

Os dias e dias que você passou só pensando nela.

O país desse jeito, e você só pensando nela.

Sem dormir, pensando nela.

Tanta coisa pra fazer, e você escrevendo o nome dela sem parar.

E as mentiras?

E aquela vez que você inventou que era meio-primo do Julio Iglesias?

E o que você sofreu quando parecia que não ia dar certo?

Como um adolescente. Aquele adolescente era você.

Isso que você é agora é o disfarce, é o imbecil essencial em recesso provisório.

Só o vexame é autêntico num homem.

Luis Fernando Veríssimo

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