segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sem Medo de Ser Feliz





“E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu”

Mateus, 25–25

 
A parábola dos talentos traz importante conteúdo para nossas reflexões. O servo, temeroso da severidade de seu patrão, desperdiça os talentos que dele havia recebido e, justamente por isso, não entra nos gozos que o seu senhor havia reservado àqueles que souberam multiplicar seus bens.
 
Assim é a vida para conosco. Cada um de nós tem recebido talentos da Providência Divina com o objetivo de fazer uso produtivo de cada um deles, transformando esses recursos em produtos do bem, da felicidade e do amor. Mas viver é arriscar-se. A única segurança que temos diante do futuro é aceitar com tranqüilidade que não existe, na verdade, nenhuma segurança quanto a este futuro, a não ser a certeza de que somos espíritos imortais, destinados a uma felicidade que se constrói a partir de nossas próprias ações.
 
A experiência nas atividades profissionais e de atendimento fraterno me têm mostrado o quanto as pessoas estão possuídas pelo medo. Medo de amar e não serem correspondidas, medo de confiar nos outros, medo de serem sinceras quanto às suas emoções e saírem feridas das relações, medo de não conseguirem sustentar-se financeiramente, medo de arriscar um trabalho novo, uma experiência nova ... medo de serem felizes.

E parece que associado a este comportamento está presente um egoísmo que as impede de saírem de si mesmas para irem ao encontro do outro, de compartilhar a vida com seus semelhantes, sem interesses maiores além dos de ser e fazer o outro feliz.
 
Quanto mais fechados em torno das próprias necessidades – e fechados a dividir com o outro – menos também a contabilidade divina nos dará de retorno.

É certo que existe um grande sistema contábil no universo, regido por uma sincronicidade psíquica, pessoal para cada individualidade. Quando nos abrimos para esse equânime sistema de trocas, haveremos de receber de tudo o que necessitamos, desde os recursos materiais indispensáveis à sobrevivência até as emoções que nos gratificam a alma.

Por isso mesmo cada um de nós nasce com seus talentos pessoais, aqueles recursos que já desenvolvemos em vidas passadas ou que nos são proporcionados pela Providência Divina para o uso em favor da vida ao nosso redor, em favor dos nossos semelhantes.

Ficar estagnado, paralisado por uma inércia comodista e temerária, é desperdiçar todas essas possibilidades o que, além de uma atitude egoísta, também é um desmerecimento à frutificação com que o cosmos nos abençoa.
 
Quem aprende a andar cairá algumas vezes. Quem senta em uma bicicleta, se equilibrando em duas rodas, sabe que em algum momento um tombo é inevitável. Pois quem vive a vida, se permitindo usufruir das boas experiências a que é convidado, também cedo ou tarde haverá de se machucar, de se frustrar nas suas mais sinceras intenções.

Mas conhecerá a felicidade, a alegria de aprender mesmo que quando levantando-se de algum tombo inesperado. Contudo, aquele que foge à vida tentando imunizar-se à dor, também se imuniza das graças com que a Divina Providência abençoa àqueles que assumem a sua cidadania cósmica, dando e recebendo na gratificante ciranda da sinfonia universal.

Saia de sua cadeira. Abandone a ilusória proteção das poltronas de sua sala onde uma televisão insiste em tentar convencê-lo de que o mundo lá fora é perigoso.

É e será perigoso para quem não acredita na imortalidade da alma e teme a morte, para quem desconhece a lei de causa e efeito regendo nossas alegrias e aflições inexoravelmente e imagina poder privar-se daquela dor inevitável que lhe está destinada. É e será perigoso para quem não faz do amor, do exercício da caridade e da fraternidade um lema de sua vida, porque aquilo que não dermos de direito aos nossos semelhantes ser-nos-á tomado à nossa revelia.
 
Jesus nunca foi um pregador da tristeza, da dor ou do medo. Ao contrário, viveu a alegria do convívio com seus companheiros, apaziguou a dor dos aflitos, incitou os homens ao trabalho no bem, pregou a felicidade como recompensa da prosperidade espiritual.

O amor ao próximo começa pelo amor a nós mesmos.

Jamais faremos os outros felizes se essa felicidade não começar a partir de nós mesmos. O mundo lá fora anseia por transformações que somente virão com aquelas que se operarem na nossa intimidade. O bem que precisamos fazer em favor de nossos semelhantes caminha lado a lado com a satisfação do bem de que somos ainda carentes. A religiosidade não precisa nem deve ser vivida de forma taciturna. Nossa pregação de alegria somente terá legitimidade na alegria com que demonstrarmos nossa convicção.

Por isso descortine as barreiras de seu protecionismo, chegue-se à rua, chegue-se à vida e faça com que ela seja melhor para você e seus semelhantes. É a isso que Jesus nos convida. Como disse o poeta:

“Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer”.

João Carvalho Neto

Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”
***

Independente do credo que professamos, acredito na manifestação de Deus. E esta segundo ele, se dá onde um ou mais estiver reunido em seu nome.
Achei pertinente o texto, retire-se a parte em que cada religião coloca os seus "dogmas" e perceberemos que o que realmente rege o universo é o amor, a busca por ele, e o ato de ofertá-lo independente dos medos que carregamos em nossos corações.  
Muitas vidas podem sim existir, entretanto já que estamos vivendo esta, façamos tudo o que podemos fazer de melhor, por nós e por aqueles que amamos ou que podemos vir a amar.

Saudações fraternais e ecumênicas desta pessoa que vos fala.
Beijos mil da Wil.

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