quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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Estranhamente, já há alguns dias me pego pensando numa obra lida aos 16 anos, Chama-se "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Kundera.

Lembro-me perfeitamente que o personagem principal adorava conquistar as mulheres, para ele a arte da conquista era leve, doce, um prazer efêmero, mas fundamental na vida dele.

Entretanto, no instante que se seguia ao amor, ele sentia uma enorme vontade de ficar só, estar ao lado de alguém após o amor era demasiado pesado. Creio que para ele, compartilhar a intimidade era algo extremamente desagradável. No decorrer do livro ele conhece uma mulher e se apaixona por ela e desde então, passam a dormir juntos...

Confesso que por muitos anos, tentei compreender o porquê daquilo, creio que por ser muito jovem à época não conseguia adentrar a questão mais profundamente.

E por um determinado período, já na juventude, até concordava com o comportamento do personagem, só que por motivos diferentes.
 
Em minha concepção realmente só devemos compartilhar nosso leito com pessoas as quais queremos que participem das nossas vidas, afinal de contas, dormir de conchinha, cuidar do amado quando ele tem pesadelos, servir um saboroso chá quando ele está doente ou simplesmente deixar-se ficar na cama lado a lado são coisas que realmente só devemos fazer quando estamos apaixonados ou amando.

Hoje, muitos anos depois, trazendo o texto para nossa realidade, percebo que homens e mulheres agem assim por egoísmo em primeiro lugar.

Entretanto este egoísmo advém de situações vividas anteriormente por quem assim procede, não adentrarei ao mérito desta questão.
 
Sei que existem pessoas que simplesmente não querem compromisso e compartilham o leito por mera satisfação sexual.

Ocorre que, o medo pode levar (e leva) muitos a assim agir, não querer compromisso nos dias atuais tornou-se até algo da moda, as pessoas simplesmente ficam.

Fiquei com fulano, fiquei com beltrano, fiquei com cicrano e esta pessoa também poderia acrescentar que de tanto ficar, acabou se perdendo dela mesma, acabou ficando pelo caminho de tantos beijos e trocas de carícias que acabam se tornando insignificantes.
 
A intimidade entre duas pessoas deveria ser consentida quando existisse o mínimo de afinidade, sim, afinidade, aquela coisa boa de compartilhar dos mesmos gostos musicais, livros, poesias, formas de encarar as adversidades, respeito mútuo, enfim aquilo que nos faz ter vontade de estar ao lado de alguém.
 
É claro que isso é raro, mas não impossível; acontece.

E como é bom o frio na barriga ao dar o primeiro beijo, o pegar na mão, o acariciar o cabelo, o olho no olho! O medo de estar sentindo tudo ao mesmo tempo, como um furacão...
 
Existem mil e uma maneiras de ser feliz, aos que gostam de ficar, digo que um dia de alguma forma, esse comportamento trará arrependimentos, desgostos quiçá até traumas. Se em maior ou menor grau, vai depender da maturidade de cada um.

Creio que não exista nada melhor que o envolvimento prévio, a troca de idéias, as descobertas de gostos, interesses, projetos de vida, os medos, a franqueza.
 
E é exatamente desta forma que nos inundamos com a maravilhosa sensação de estar ao lado de uma pessoa que nos entende e que desperta os mais variados sentimentos, levando a uma entrega total.Deixando assim aos dois a decisão de compartilhar ou não o maravilhoso espetáculo que é ter um ser querido repousando tacitamente a seu lado.
 
Toda a beleza dos relacionamentos vem exatamente do respeito, confiança, e amizade. Respeitar os limites do outro é algo que só a maturidade ensina, não há peso nisso é algo prazeroso.

Assim, termino da mesma forma que comecei, citando Milan Kundera:

"Tomas pensava: deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)".

Beijos mil da
Wil.

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