segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Inanição Intelectual


Gaston é um homem bonito que atrai quase todas as garotas de sua 'aldeia'. Apenas uma não se sente fascinada por ele: Bela, que vê muito além das aparências. Bela vive a procura de algo maior e acredita que "deve existir algo além do que uma vida sem emoção". Nesta aventura ela descobre os livros.

Desde que assisti ao musical comecei a fazer uma sondagem nas platéias das palestras e convenções de aprendizado que participo. A primeira pergunta que lanço é muito subjetiva: quem tem o hábito de ler com freqüência? Sem o compromisso da precisão matemática, posso afirmar que menos de um quarto da platéia levanta a mão.

Começo, então, a dialogar com aqueles que levantaram a mão. A grande maioria, que diz ter o hábito da leitura, lê com freqüência jornais e revistas. São poucos os que lêem livros. Indo mais a fundo no questionamento, dirijo a pergunta para aqueles que disseram que lêem livros.

A pergunta desta vez é: vocês lêem muitos livros? Em platéias com mais de 200 pessoas pode-se contar nos dedos quantos são aqueles que dizem sim. Mas, o questionamento derradeiro ainda está por vir: o que são muitos livros? Quantos livros são lidos em um ano? A resposta é surpreendente: quem lê muito, lê entre quatro a oito livros por ano! Pare para pensar e faça você também a estatística com as pessoas que você convive.

São leitores contumazes ou engrossam as estatísticas da inanição intelectual?

Para alguns, os livros não passam de objetos de decoração e se prestam para "dar peso ao ambiente". Neste processo de coisificação do livro, pouco importa o conteúdo: os livros são adquiridos por metro e a seleção se dá pela capa e pela lombada; quanto maior e mais colorido, melhor.

A aparência de velhos e manuseados reforçam a idéia de cultura sólida e conhecimento de berço. Pessoas inanimadas lêem muito pouco e, portanto, evoluem pouco na carreira e na vida. Uma coisa está diretamente ligada à outra. Sem conhecimento, as pessoas não brilham. Um profissional que não lê, é um profissional que limita seu conhecimento sistêmico e, conseqüentemente, tem poucas perspectivas.

Outras pessoas, porém, consideram os livros "alimentos para o cérebro". Da mesma forma que um veículo, para se movimentar precisa de combustível; nosso corpo, para se manter ativo precisa de alimento; a nossa mente, por sua vez, para se manter atualizada, precisa de conhecimento.

Os livros cumprem este papel como boa alternativa de informação e pesquisa. Uma pessoa que lê é uma fonte inesgotável de criatividade, pois quando a informação se transforma em conhecimento, a visão do todo se amplia. Ler um livro é como escalar uma montanha, subir no topo e dali ver o mundo de um novo ângulo, um ângulo superior e sistêmico. A leitura de livros tem um custo-benefício extremamente vantajoso.

Não é preciso empatar muito tempo, e tampouco muito capital, em algo que pode se transformar em um importante diferencial, capaz de impulsionar o sucesso em qualquer carreira. A leitura areja a mente, nutre as idéias e faz brotar o talento de cada um. Se realmente somos os nossos conhecimentos, a informação que ingerimos molda nossa personalidade e contribui na formulação de nossas idéias.

Aquilo que escolhemos para ler e o que resolvemos deixar de lado são, portanto, decisões críticas que tomamos. Qual a utilidade dos detalhes dolorosos de um crime? E a roupa usada por um artista famoso? E a briga entre torcidas após um clássico de futebol?

O excesso de informações inúteis funciona como um hipnotismo que aciona o piloto automático e faz com que a pessoa viva na repetição, adormecida e com baixo senso crítico. O lixo cultural invadiu nossa vida e a informação útil compete em desvantagem com a poluição mental, assim tudo que absorvemos torna-se parte de nós.

Assim, quem está em evolução constante está a cada dia ampliando seu próprio dicionário de mundo. O mal da humanidade tem nome: inanição intelectual, ou se preferir, simplesmente ignorância. O tempo é você quem faz. Invente um futuro cheio de possibilidades. Vá além de apenas ler bons livros. Comece degustando, depois saboreie, e por fim devore-os.

E bom apetite!

Por Silvio Bugelli*


*Silvio Bugelli é consultor, conferencista e educador empresarial, formado em Administração de Empresas com pós-graduação pela FGV, dirige a TCA Consultores e a Cempre, empresa de educação voltada a empreendedores e executivos.

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