quinta-feira, 31 de março de 2011

Último soneto




Já da noite o palor me cobre o rosto,

Nos lábios meus o alento desfalece,

Surda agonia o coração fenece,

E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito, embalde num macio encosto,

Tento o sono reter!... Já esmorece

O corpo exausto que o repouso esquece...

Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,

Fazem que insano do viver me prive

E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!

Volve ao amante os olhos, por piedade,

Olhos por quem viveu quem já não vive!

Álvares de Azevedo

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