Mas - como era antes o meu silêncio, é o que não sei e nunca soube.
Às vezes, olhando um instantâneo tirado na praia ou numa festa, percebia com leve apreensão irônica o que aquele rosto sorridente e escurecido me revelava: um silêncio.
Um silêncio e um destino que me escapavam, eu, fragmento hieroglífico de um império morto ou vivo.
Ao olhar o retrato eu via o mistério. Não. Vou perder o resto do medo do mau-gosto, vou começar meu exercício de coragem, viver não é coragem, saber que se vive é a coragem - e vou dizer que na minha fotografia eu via O Mistério.
A surpresa me tomava de leve, só agora estou sabendo que era uma surpresa o que me tomava: é que nos olhos sorridentes havia um silêncio como só vi em lagos, e como só ouvi no silêncio mesmo.
Clarice Lispector
Acho que todos nós carregamos nosso silêncio, aquele silêncio que nos fala quando estamos sós, aquele silêncio que é o nosso próprio eu, do qual fugimos em meio a agitação. Excelente escolha do texto. Um grande abraço!
ResponderExcluirLa photo montre un visage dont la beauté figée reste troublante.
ResponderExcluirRoger