sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poesia Matemática

 
Às folhas tantas do livro matemático um quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do Ápice à Base, Uma Figura Ímpar; Olhos rombóides, boca trapezóide, Corpo otogonal, seios esferóides.

Fez da sua Uma vida Paralela a dela Até que se encontraram No Infinito.

"Quem és tu?"indagou ele Com ânsia radical.

"Sou a soma dos quadrados dos catetos.

Mas pode me chamar de Hipotenusa.

"E de falarem descobriram que eram - O que, em aritmética, corresponde a almas irmãs - Primos-entre-si. E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas e os exegetas do Universo Finito. Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar constituir um lar. Mais que um lar, uma perpendicular. Convidaram para padrinhos O Poliedro e a Bissetriz. E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro Sonhando com uma felicidade Integral E diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos e foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia.

Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum, Freqüentador de Círculos Concêntricos. Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela, Uma Grandeza Absoluta, e reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu Que com ela não formava mais Um Todo, Uma Unidade. Era o Triângulo, Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fração Mais ordinária. Mas foi então que o Einstein descobriu a Relatividade e tudo que era expúrio passou a ser Moralidade Como, aliás, em qualquer Sociedade.

 
Autoria de Millôr Fernandes

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