sexta-feira, 1 de abril de 2011

Clarice



Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado!

Quem diz que me entende nunca quis saber.

Aquele menino foi internado numa clínica.

Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças

Dos sonhos que se configuram tristes e inertes

Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha.

E Clarice está trancada no banheiro...

E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete.

Deitada no canto, seus tornozelos sangram.

E a dor é menor do que parece!

Quando ela se corta ela se esquece

Que é impossível ter da vida calma e força.


Viver em dor, o que ninguém entende

Tentar ser forte a todo e cada amanhecer.


Uma de suas amigas já se foi

Quando mais uma ocorrência policial...


Ninguém entende, não me olhe assim

Com este semblante de bom-samaritano

Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente.


Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente

Nada existe pra mim, não tente.

Você não sabe e não entende.

E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito

Clarice sabe que a loucura está presente.


E sente a essência estranha do que é a morte,

Mas esse vazio ela conhece muito bem!


De quando em quando é um novo tratamento

Mas o mundo continua sempre o mesmo!


O medo de voltar pra casa à noite

Os homens que se esfregam nojentos

No caminho de ida e volta da escola.


A falta de esperança e o tormento

De saber que nada é justo e pouco é certo

E que estamos destruindo o futuro

E que a maldade anda sempre aqui por perto.


A violência e a injustiça que existe

Contra todas as meninas e mulheres!


Um mundo onde a verdade é o avesso

E a alegria já não tem mais endereço!


Clarice está trancada no seu quarto

Com seus discos e seus livros, seu cansaço...


Eu sou um pássaro

Me trancam na gaiola,

E esperam que eu cante como antes

Eu sou um pássaro.


Me trancam na gaiola

Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito

Clarice só tem 14 anos...


Legião Urbana

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